A construção da autonomia de usuários em direção à condução de suas próprias vidas de forma independente, seja no contexto familiar, seja no grupo social ampliado pouco avançou apesar das conquistas obtidas pelos movimentos da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial. Esse grupo populacional de portadores de sofrimento psíquico vivencia perdas significativas em sua vida cotidiana, com a presença de forte estigma na sociedade, empobrecimento, perda de emprego e isolamento social, agravados pela perda de um papel social, perda do senso de si e do sentido da sua própria vida. O estudo teve como objetivos apreender as percepções de pessoas em sofrimento psíquico acerca da vivência da doença e analisar as possibilidades de experiências que conduzam ao restabelecimento de suas vidas. Trata-se de uma pesquisa de campo de análise qualitativa de caráter descritivo, realizado em usuários cadastrados numa equipe de Estratégia Saúde da Família do município de Montes Claros/MG. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada. Os dados foram submetidos à análise temática que gerou três dimensões: (1) Significado de ser portador de sofrimento psíquico; (2) Interações familiares, sociais e vivencia profissional; (3) Práticas de empoderamento e recovery. E as categorias correlacionadas: 1) Dimensão real do sofrimento vivenciado; 2) Ter sofrimento psíquico é ter dependência medicamentosa;3) Convívio satisfatório;4) Interações conflituosas; 5) Apoio religioso; 6) Apoio Familiar; 7) Interações sociais na comunidade. O processo de aceitação do sofrimento psíquico é um componente central da recuperação e encontra-se intimamente relacionada ao funcionamento, ao manejo da doença e à qualidade de vida. Isto posto, é imprescindível identificar o significado de ser portador de sofrimento psíquico, que na entrevista evidencia-se como um sofrimento diário associada a inúmeras limitações para realizar atividades cotidianas que são enfrentadas com a utilização de mecanismos de empoderamento para restabelecimento da vida cotidiana como a busca por apoio religioso, apoio familiar e atividades de apoio comunitário com ações de suporte. Introduzir o debate sobre o restabelecimento da vida com empoderamento possibilitando a garantia de todos os direitos e promovendo a cidadania constitui um grande desafio fazendo necessário realização de estudos sobre direcionamento do recovery como um estado de recuperação das funções psíquicas, físicas e sociais.