O movimento de Reforma Psiquiátrica tem provocado na sociedade distintas interpretações que, por vezes, vão de encontro aos propósitos e diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental, ou se afastam do seu entendimento, este último talvez por influência do antigo modelo manicomial. Os múltiplos olhares sobre esse fenômeno são influenciados na medida em que as propostas reformistas, no âmbito teórico-conceitual, técnico-assistencial, político-jurídico e sócio-cultural, vêm ganhando visibilidade e destaque na sociedade. Nesta perspectiva, objetivou-se investigar a concepção do processo de reforma psiquiátrica pelos profissionais de enfermagem que atuam no Serviço Residencial Terapêutico (SRT) do município de Caicó-RN. Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-FMJ, Parecer 2009/0543). Estudo de natureza descritiva, com abordagem qualitativa, regido pelas normas da ABNT. Teve como sujeitos de pesquisa três técnicos de enfermagem, dois auxiliares de enfermagem e um enfermeiro. O instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista semi-estruturada, concedida após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no período de setembro a dezembro de 2009. No contexto desta pesquisa, a Reforma Psiquiátrica é entendida como um movimento complexo que tem como finalidade modificar o trabalho na área da Psiquiatria. O redirecionamento deste trabalho se daria no âmbito assistencial, fundamentado sobre o princípio da reinserção social dos portadores de sofrimento mental. No município, essa mudança se deu em consonância com a abertura de novos serviços de saúde mental, “motivando” os profissionais a assumir uma nova posição em relação ao paciente, uma postura mais horizontal e humanizada, que se propõe a desconstruir a imagem autoritária, tecnicista e impiedosa do modelo asilar. Foram ainda encontradas opiniões contrárias à existência de serviços substitutivos, em detrimento do fechamento hospital psiquiátrico local, entendida como mudança que gerou desassistência dos usuários egressos do antigo manicômio. Conclui-se que o processo de Reforma Psiquiátrica necessita ser esclarecido e disseminado na sociedade. Os profissionais da saúde, principalmente os atuantes na área de saúde mental, devem ser conhecedores destes propósitos, pois a partir da mudança da postura do profissional nos serviços substitutivos, uma nova relação com a loucura será difundida e afeiçoada na sociedade.