Introdução: Transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho resultam de condições do trabalho, que incluem desde exposições relacionadas a agentes tóxicos até fatores do processo e organização do trabalho. Objetivo: estimar a prevalência de transtornos mentais relacionados ao trabalho (TMRT) entre trabalhadoras de enfermagem do Brasil no período 2007-2023. Método: estudo ecológico com dados dos registros das notificações compulsórias de TRMT que compõem a base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Dados da população de trabalhadores/as de enfermagem do Brasil foram obtidos do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. Estimou-se a variação percentual proporcional de TRMT por período e as prevalências TMRT entre trabalhadoras de enfermagem. Resultados: No período analisado, foram registrados 1.788 casos de TMRT entre trabalhadoras de enfermagem. Houve variações nas prevalências de TRMT entre os períodos 2007-2015 e 2016-2023. As maiores prevalências de TRMT foram observadas em 2016-2023. A prevalência em 2016 foi de 9,1 TRMT por 100.000 trabalhadoras, elevando-se para 21,6 TMRT por 100.000 trabalhadoras em 2023 - variação proporcional de +137%. Os estados com maior registro de TMRT em números absolutos foram Minas Gerais (n=373), Rio Grande do Sul (n=341), São Paulo (n=312), Rio Grande do Norte (n=109) e Mato Grosso do Sul (n=83). Os municípios com maiores registros de TMRT foram Porto alegre (n=217), Natal (n=100), São Paulo (n=61), Belo Horizonte (n=51) e Uberlândia (n=47). Houve maior proporção de TMRT entre as mulheres (90,3%) na faixa de idade de 30 a 39 anos (40,1%), de raça/cor branca (51,7%) e do nível técnico (66,5%). Os diagnósticos de TRMT mais frequentes foram: estado de estresse pós-traumático, reação aguda ao estresse, transtorno de adaptação, e transtorno depressivo e ansioso, ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo não especificado, transtorno afetivo bipolar não especificado. Considerações finais: as estimativas de TMRT entre as trabalhadoras de enfermagem mostram um crescimento das notificações, porém são possivelmente subestimadas no SINAN. O cenário enseja ações preventivas e de enfrentamento das condições de trabalho adversas à saúde mental. Especial atenção cabe à capacitação das equipes da rede de atenção à saúde para investigar a potencial relação dos transtornos mentais com o trabalho, de modo a fomentar estimativas fidedignas dos TMRT para tomada de decisões oportunas.