As últimas décadas foram marcadas pelo movimento de reforma psiquiátrica no Brasil, pautada na luta contra modelos manicomiais e a um modo de pensar as questões existenciais fortemente geridas pela psiquiatria. Na pandemia, os profissionais de saúde precisaram enfrentar obstáculos manicomiais impostos pela legislação golpista da época, expressa na nota técnica Nº 11/2019, que incluiu hospitais psiquiátricos como componentes das Redes de Atenção Psicossocial (RAPS), inclusive possibilitando a internação psiquiátrica de crianças e adolescentes e incentivando a popularização de comunidades terapêuticas. Dessa forma, o trabalho nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dispositivos essenciais na implantação dos princípios da reforma psiquiátrica, passou por severas transformações, inclusive cortes orçamentários, que fragilizaram em demasia a qualidade da assistência prestada nestes serviços. Assim, este estudo caracteriza-se como descritivo, do tipo relato de experiência, que tem por objetivo apresentar as vivências e estratégias utilizadas para o cuidado em saúde mental em CAPS no contexto pandêmico a partir da perspectiva de enfermeiras. No início da pandemia, os atendimentos nos CAPS foram reduzidos devido ao distanciamento obrigatório para prevenção da infecção por Covid-19. No entanto, os atendimentos presenciais foram mantidos, sendo também ofertados teleatendimentos. A atuação da enfermagem nos CAPS, portanto, precisou estar ainda mais potencializada nesse período, tendo em vista a fragilidade psíquica de todos e da própria infraestrutura do serviço. Na pandemia, enfermeires precisaram estar ainda mais abertos a possibilidades e experimentações em relação ao cuidado com os usuários. Portanto, para além das ações prestadas, como acolhimento, atendimentos individuais e em grupo, visitas domiciliares e atenção à crise, enfermeires estiveram à frente de orientações de biossegurança no trabalho e modos de produzir saúde fora dos muros dos serviços. A sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e os Protocolos Operacionais-Padrão (POP) são peças-chave para estruturação do cuidado em CAPS, principalmente neste período. Assim, através de tecnologias leves e leve-duras, a enfermagem vem tentando se reconstruir, como parte fundamental da equipe multiprofissional de um CAPS, reorganizando o cuidado em saúde mental na pós-pandemia, seguindo rumo a efetivação de uma reforma psiquiátrica antimanicomial.