Introdução: o tratamento das queimaduras é complexo e demanda assistência integral e multidisciplinar por um extenso período que vai além da internação inicial. As implicações perpassam questões meramente físicas, acometendo as diferentes esferas do ser humano, incluindo o enfrentamento das sequelas (temporárias ou definitivas) durante o processo de reabilitação, transformando o indivíduo em portador de condição crônica de saúde. Objetivo: conhecer as adversidades vividas por adultos vítimas de grandes queimaduras após a alta hospitalar de um serviço de referência para essa injúria. Método: pesquisa qualitativa ancorada no Pensamento Complexo de Edgar Morin, desenvolvida no ambulatório do centro de tratamento de queimados de um hospital universitário público do Norte do Paraná, Brasil, com 10 adultos submetidos a pelo menos uma cirurgia reparadora para correção de sequelas decorrentes da injúria inicial. Realizou-se entrevista semiestruturada em profundidade com gravação em áudio e, após transcrição literal, os dados foram tratados por meio por meio da análise de conteúdo com apoio do software Atlas-TI versão 9.0. Resultados: emergiram três categorias empíricas: 1) Ambiguidades diante das cicatrizes, em que destacaram como ponto negativo a mudança na imagem corporal com impacto na saúde mental e como ponto positivo que as cicatrizes representavam sinais de vitória e superação; 2) Vivenciando o preconceito devido às marcas corporais, citando constrangimento com a nova aparência e afastamento das pessoas; e 3) Limitações e desconfortos físicos após a alta, na qual mencionaram a dor crônica, o desconforto com a malha compressiva, as limitações físicas no início da reabilitação, o fato de não conseguirem realizar as mesmas atividades de antes da queimaduras e a perda da independência. Considerações finais: a trajetória desde a ocorrência da queimadura até o restabelecimento de saúde da vítima é hologramática e não linear, ocasionando mudanças físicas significativas e permanentes na aparência e na funcionalidade do corpo, o que pode afetar a imagem corporal e a autoestima dos pacientes. Assim, a equipe multidisciplinar que atende tal clientela necessita mobilizar competências para assistir não somente seus aspectos físicos, mas também para considerar as questões subjetivas no processo de reabilitação.