Os acidentes escorpiônicos evidencia-se como um problema de saúde pública tendo como principal motivo a elevada toxidade do veneno desses animais, o maior acometimento de indivíduos e as elevadas taxas de letalidade em população vulnerabilizada. Os riscos aumentam pela mudança climática, expansão populacional desordenada e saneamento básico deficiente. O tratamento é definido de acordo com a gravidade do caso, o antiveneno é administrado na presença de reações sistêmicas. Esse estudo tem como objetivo descrever casos de envenenamentos por escorpião atendidos em um centro de referência hospitalar no Amazonas de 2015 a 2022. Foram extraídos dados clínicos das vítimas em prontuários eletrônicos da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, Manaus. Foram analisadas informações como idade, tratamento, reação adversa ao tratamento, dias de internação hospitalar e em UTI e sintomatologia clínica apresentada. Durante o período, 14 pacientes, com idades entre 3 e 33 anos, foram admitidos no hospital. Na chegada, 10 foram classificados como leve, 2 como moderados e 2 como acidente grave. O tratamento, realizado por meio da administração de antiveneno, variou entre 2 e 8 ampolas. O tempo de internação hospitalar e em UTI decorreu de 2 a 20 e 2 a 13 dias, respectivamente. Nenhuma das vítimas apresentou reação adversa ao tratamento. Entretanto, do total de pacientes, dois evoluíram para estado grave. Os dois pacientes tinham 6 anos de idade, sendo que um desenvolveu edema pulmonar agudo, necessitando de ventilação mecânica e uso de drogas vasoativas, a internação em UTI teve duração de 6 dias, e, o outro apresentou comprometimento respiratório, necessitando de suporte ventilatório e drogas vasoativas, teve 3 paradas cardiorrespiratórias, 3 tentativas de extubação sem sucesso e evolução à traqueostomia, recebeu alta da UTI traqueostomizado após 3 dias, porém, com sequela neurológica. Nesse estudo, foi observado que as populações mais acometidas encontravam-se em áreas rurais e sujeitas a vulnerabilidades, o que corrobora com os achados na literatura, e, que a equipe de profissionais designada para este atendimento deve estar preparada para atendimento rápido, eficaz e assertivo devido a possibilidade de complicações clínicas e sequelas, como ocorreu em um dos casos graves atendidos. Mesmo com a distribuição gratuita de antiveneno no Brasil, casos escorpiônicos ainda estão sujeitos à negligência e exigem formulação de políticas e ações voltadas ao tema.