Trata-se de estudo de abordagem qualitativa que analisou as diferentes formas pelas quais adolescentes descobriram a gestação. Os dados foram obtidos em entrevista semiestruturada com seis mulheres cadastradas em Centro de Saúde da Família de Chapecó SC que viveram a experiência da gestação durante a adolescência. As entrevistas, realizadas nos meses de agosto e setembro de 2018 e norteadas por um roteiro, foram gravadas, transcritas e analisadas com a metodologia do discurso sujeito coletivo (DSC) a partir de dois eixos temáticos. Um deles, ‘gestação’, com cinco ideias centrais, uma das quais ‘descoberta da gestação’ revelou maneiras pelas quais a gravidez foi descoberta. Sintomas físicos como náuseas, vômitos e a ausência de menstruação foram amplamente citados nos discursos. À suspeita seguiram-se testes de gravidez (urina e sangue). A busca do serviço de saúde no estágio inicial da gestação foi motivada pela presença materna. A enfermeira do serviço vinculou a adolescente ao pré-natal e referida ao acompanhamento de alto risco seguindo protocolo para usuárias grávidas com idade inferior a 15 anos do município. Ainda, as adolescentes utilizam a internet para esclarecer seus sintomas e cuidados durante a gestação. Durante a adolescência há vigilância rigorosa sobre o comportamento feminino, porém não acompanhada por conversas e esclarecimentos sobre os processos vividos nesta fase, especialmente sobre sexo e sexualidade, o que aumenta a vulnerabilidade adolescente à iniciação sexual precoce e desprotegida, bem como à gravidez. Esse rigor amedronta a menina comprometendo a comunicação com genitores/familiares, levando-a a buscar maneiras de burlar a vigilância e de adiar a revelação da gravidez usando, inclusive, meios extremos para simular a menstruação, tal como a automutilação. Os resultados sugerem uma lacuna na atenção à saúde de adolescentes do sexo feminino que, se preenchida, poderia esclarecê-las sobre seu próprio corpo, sexualidade, sexo, contracepção e autoproteção, além de ajudá-las a se fortalecerem para suas próprias decisões, inclusive a de buscar o serviço de saúde quando da suspeita de gravidez. As orientações de saúde são importantes e visam a instruir a adolescente sobre o próprio processo de gravidez, principalmente no início da gestação. O acompanhamento de pré-natal é atividade prioritária na atenção básica, acredita-se que esse papel de orientação seja assumido pelos profissionais enfermeiros que atuam nesse nível de atenção.