O Brasil possui uma incidência de cesarianas elevada, chegando a 55,5% em 2015, ultrapassando, portanto os partos vaginais. Cerca de 70% de todos os partos são realizados no setor público de atenção à saúde, dos quais 46% são cesarianas. Neste estudo, lança-se o olhar para a trajetória de mulheres que terminaram suas gestações em cesarianas em maternidades públicas. Objetivou-se analisar os elementos dos itinerários de cuidados à gestação e parto dessas mulheres e quais elementos dos itinerários que colaboraram para este desfecho. Conhecer esta trajetória contribui para o conhecimento sobre a utilização desta tecnologia no parto e o levantamento de possíveis condições a serem enfrentadas para a redução de cesarianas no país. O estudo, de natureza qualitativa com método de análise de relatos orais, utilizou entrevistas em profundidade conduzidas por pauta temática para coleta de dados. Foram realizadas 16 entrevistas com usuárias do setor público, de municípios do estado do Rio de Janeiro, entrevistadas em 2011 e 2012, com intervalo de 6 a 18 meses após o parto. Entre os resultados se destacam: realizar o pré-natal em serviços de saúde, fazer exames laboratoriais e ultrassonográficos são cuidados presentes nos itinerários de todas as entrevistadas. A participação da família robustece os cuidados profissionais em serviços de saúde, algumas vezes reiterando a utilização de tecnologias para monitoramento da gestação, em especial a ultrassonografia. Acerca do parto, a maioria sabia qual maternidade procurar, demonstrando que a organização da assistência se apresenta estruturada para a mulher; a maioria também entendia que a via de parto seria definida por indicações clínicas estabelecidas pelo médico, sendo a cesariana parte do acervo de cuidados e não uma escolha. Nesse sentido, as indicações clínicas despontam como motivos acatados e incontestáveis pelas mulheres, colocando a cesárea sempre como uma possibilidade a ser considerada pelo profissional. Cabe uma reflexão sobre a falta de conhecimento e preparo das mulheres para a vivência dos partos pelas mulheres nos ambientes hospitalares, sua relação com os profissionais e sobre os processos de decisão empreendidos. No cenário de discussões sobre a escolha da cesárea como via de parto, este estudo visa colaborar com o descortinamento de dimensões da utilização de cesárea no setor público, onde vemos aproximar-se de uma indicação clínica, mas que nem sempre se concretiza.