A época era início dos anos 80. O assunto muito popular AIDS, sendo para a ciência uma pauta ainda singular. Período que não havia nenhum referencial bibliográfico, estando sendo literalmente escrito. Ao final de 1985, em um hospital público da capital paulista, seus servidores que tinha em sua rotina diária receber pacientes com doenças infectocontagiosas geral, teve que acolher os “aidéticos” (termo usado na época). Foi uma espécie de metamorfose na equipe de Enfermagem já que o profissional teve que literalmente se transformar em um outro ser, agora ainda mais valente e audaz, onde estar arrebatado de religiosidade era um diferencial para cuidar desses pacientes. A letalidade ficava a cargo do curto tempo de diagnóstico, gerando medo, pânico e desespero nas equipes, muitas vezes incontroláveis pelas chefias, culminando em pedidos de transferências de setores e/ou demissões. O revés era tamanho que até mesmo os servidores que prestavam cuidados direto aos pacientes com AIDS sofriam assédio pelos familiares por cuidar desses pacientes. Momentos em que corajosamente o Enfermeiro se viu obrigado a desenvolver estratégias motivacional de trabalho, reforçando todos os pontos de humanização do profissional, indo do psicológico ao social e espiritual. É inegável que as chefias também eram dotadas dos mesmos sentimentos que seus auxiliares, porém minimizar com responsabilidade o temor da equipe em torno dos “aidéticos” era missão árdua, atribuída ao enfermeiro. No entanto, era imprescindível estimular a participação da equipe neste trabalho especificamente, tendo como objetivo suavizar o abismo social em que o paciente era arremessado com naturalidade e de forma corriqueira. Em mais de três décadas se fala em HIV/AIDS, hoje inclusive a ciência publiciza a sua cura. A epidemia da AIDS trouxe diversos desafios e ganhos científicos inenarráveis para a equipe de Enfermagem, abrangendo o campo da saúde e do social. Sem sombra de dúvidas, as parcerias institucionais ou não foram fundamentais para o atravessamento de todos esses anos. Todos os atributos lançados à AIDS transcenderam o individual, reivindicando um repensar no coletivo. Isso faz com que a doença continue sendo um desafio para a humanidade, com uma diferença, já que hoje está calçada pela ciência e vivências de todos que assistiram a sua chegada e sendo corriqueiro depoimentos vivos dos usuários do fundamental papel da Enfermagem no enfrentamento desse agravo.