Introdução: o abortamento provocado é um problema de saúde pública mundial que gera ônus aos sistemas de saúde, às famílias e à saúde física e psíquica das mulheres. Embora os agravos físicos desencadeados por este evento exijam ações imediatas devido ao risco iminente de morte, os conflitos emocionais vivenciados pelas mulheres ao longo da trajetória abortiva também necessitam de atenção, visto poderem desencadear sérios problemas de ordem psíquica. Objetivo: analisar os sentimentos experienciados por mulheres após a efetivação do abortamento. Metodologia: pesquisa interpretativa, em abordagem qualitativa, desenvolvida com 19 mulheres internadas em situação de abortamento em uma maternidade pública, localizada em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. A coleta de dados ocorreu entre os meses de março e agosto de 2013, utilizando um roteiro de entrevista semiestruturado. Os dados foram analisados com base nos referenciais teóricos da Teoria Fundamentada nos Dados e o Interacionismo Simbólico. O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com Certificado de Apresentação para Apreciação Ética nº 10332312.9.0000.5537. Resultados: as emoções negativas experienciadas pelas participantes estiveram atreladas as concepções morais e religiosas presentes na sociedade sobre a prática abortiva. Deste modo, as falas revelaram sentimentos negativos como angústia e tristeza, os quais se exacerbaram, sobretudo, quando as mulheres visualizaram e interagiram com o embrião após a concretização do abortamento. Além disso, evidenciou-se o medo da morte, bem como de punições divinas por terem praticado o abortamento, destacando-se o receio do nascimento de filho deficiente ou impossibilidade de gerar outros filhos. Estes temores acarretaram, em algumas entrevistadas, sensação de alívio após a efetivação do ato, o que esteve associado à ausência de sequelas consideradas por elas como grave. Conclusão: a efetivação da prática abortiva leva as mulheres a se considerarem transgressoras da moralidade e dos simbolismos atribuídos pela sociedade à vida, à gravidez e à maternidade, desencadeando, assim, dor emocional. Nesse sentido, os profissionais de saúde precisam considerar as inúmeras nuances deste fenômeno para prestarem uma assistência mais acolhedora e pautada na escuta qualificada, visando reduzir o sofrimento inerente à situação de abortamento.