O transplante de órgãos é uma alternativa de tratamento para problemas de saúde crônicos, que provocam sofrimento e redução da qualidade vida. Inúmeras questões culturais, sociais, econômicas e políticas influenciam no aumento da recusa da doação de órgãos, por parte dos familiares de potenciais doadores. A entrevista familiar mostra-se como instrumento de aproximação entre a família e os serviços de busca de órgãos. No Piauí, a entrevista é realizada por enfermeiros que possibilitam esclarecimentos sobre o paciente em Morte Encefálica (ME) e sobre a doação em si. Objetivou-se descrever a experiência de acadêmicos de enfermagem na rotina da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Estado do Piauí, identificando os fatores que influenciam na recusa pela doação de órgãos. Trata-se de um relato de experiência, o qual descreve as vivências dos acadêmicos em um estágio extracurricular na OPO. Na prática cotidiana, ocorre a busca ativa por possíveis doadores de órgãos e tecidos, identificação do paciente com quadro compatível de ME, realização da entrevista familiar, notificação dos óbitos diariamente, coleta de material para exames laboratoriais (nos casos de doação de órgãos), organização e realização de campanhas educativas com a supervisão do enfermeiro. Na abordagem familiar, procura-se estreitar o vínculo entre o profissional e os familiares da pessoa falecida de forma a acolher estes. Fala-se das causas da morte, do significado da pessoa em vida, dos anseios familiares, do serviço realizado pela OPO e da possibilidade de doação, esclarecendo questões como: que órgãos podem ser doados, integridade do corpo, tempo de entrega do corpo, significado da doação, perspectiva da doação provocar deformidade e tempo para tomada de decisão pelo aceite ou recusa da doação de órgãos. Conclui-se que o estágio na OPO possibilitou compreender as diversas interfaces da entrevista familiar para a eficácia da doação de órgãos. A abordagem pelo enfermeiro, os dilemas socioculturais, a falta de altruísmo humanitário, o medo de deformidades anatômicas e conflitos de opinião intrafamiliares apresentam-se como importantes fatores que prejudicam a doação de órgãos e tecidos. A técnica da entrevista familiar, associada a movimentos de educação em saúde, midiatização da importância da doação de órgãos e incentivos políticos econômicos contribuem para que o transplante de órgãos seja uma alternativa de tratamento mais acessível aos que somente possuem essa alternativa de cura.